segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dependência Digital – A "netcompulsão"

Em pouco tempo, a internet se tornou parte fundamental da vida profissional e pessoal de grande parte da humanidade, mas tanto a sua importância como os efeitos que acarretam nos usuários ainda não são bem compreendidos.

A dependência digital já passou a ser patologia psiquiátrica em alguns países. Os termos “dependência de internet” e “uso patológico da internet”, por exemplo, já constam no Diagnostic and Statistical Manual, da Associação Psiquiátrica Norte-Americana. No Brasil, o uso excessivo da internet,  ainda não é considerado doença e sim um transtorno, porém a preocupação em relação à dependência já existe no país. Estima-se que pelo menos 10% dos usuários brasileiros, quase dois milhões, já estão dependentes.


Segundo a psicóloga Joana Carolina Paro, a dependência ou vício em internet pode ser observado a partir não só da quantidade de tempo que o indivíduo, seja criança, adolescente ou adulto, gasta navegando, mas principalmente o quanto compromete outras atividades importantes para uma vida saudável e feliz. O relacionamento pessoal e real com a família e amigos, atividades escolares, de trabalho ou mesmo de lazer; os relacionamentos afetivos e sexuais podem ficar comprometidos seriamente quando a pessoa concentra toda a sua energia em obter, através da rede, a satisfação de suas necessidades na busca de prazeres imediatos.

"Este tipo de vício ainda não constitui uma classificação diagnóstica, mas faz parte do transtorno de impulso, como o jogo. A dinâmica das duas compulsões é exatamente a mesma e pode estar relacionada também a um transtorno da ansiedade.
Sob a perspectiva da abordagem cognitiva, os três transtornos: de dependência química, de jogo compulsivo e de acesso compulsivo à internet, são apenas sintomas secundários de um processo instalado em fases anteriores do desenvolvimento da personalidade, quando se instala um sistema de esquemas cognitivos e suas respectivas crenças sobre si mesmo. Isto torna as pessoas pré-dispostas a desenvolverem os sintomas secundários dos vícios em contato com a possibilidade de experimentação."

Joana Paro indica alguns sintomas que podem dar pistas claras sobre a dependência da Internet, são eles:
-Excessiva preocupação com a Internet, necessidade de aumentar o tempo gasto on-line para obter o mesmo nível de satisfação;
-Ter que se esforçar para não se conectar;
-Irritabilidade ou depressão, alteração do humor frente à impossibilidade de conectar-se;
-Permanência de conexão maior do que imaginam;
-Mentiras a respeito do tempo que passam on-line; e
-Prejuízo do desempenho no trabalho e atividades escolares e das relações sociais em função da Internet.

Depressão ou timidez excessiva são características comuns entre os dependentes. Por esta razão, os sites mais freqüentados são justamente os que promovem maior facilidade de relacionamento, como as salas de bate-papo, sites de relacionamentos e, mais recentemente, os jogos virtuais que apresentam algum tipo de interação social, como o second life.

No Brasil, a novidade que tem atraído um grande número de usuários é a versão brasileira do Happy Harvest, o Colheita Feliz. Trata-se de um aplicativo do Orkut ao qual o internauta possui uma fazenda virtual e interage com seus amigos, podendo ajudá-los em suas plantações, roubar-lhes, plantar pragas ou enviar presentes. Jogos deste tipo promovem uma espécie de sensação de “sucesso” quando o internauta conquista um nível superior, amenizando os fracassos da vida real.

Sites pornográficos e de apostas também estão entre os mais procurados, entrelaçando compulsões já existentes.

M.A, uma mulher de 32 anos que preferiu não se identificar, conta que anteriormente não tinha paciência para usar a internet, mas hoje, com a rapidez ao acessar os sites de seu interesse, passou a ficar horas navegando. “Disputo o computador com meus dois filhos adolescentes, mas espero eles dormirem para poder ficar tranquila. Meu marido reclama muito, mas mesmo assim, sempre que tenho um tempinho, corro para o computador.”, confessa.

Ao ser questionada se o uso da internet prejudicava seus afazeres, ela afirmou que sim. Reconhece que é “viciada em internet”, mas afirma nunca ter pensado em buscar ajuda profissional. “Sempre evitei pensar no assunto, a internet é onde eu relaxo e elimino as tensões do dia-a-dia, só agora, com as reclamações da família é que passei a pensar no assunto”, revela.

Para Joana Paro, o primeiro passo para combater um vício é reconhecê-lo e admiti-lo. Compreender seu mecanismo e os danos que causam na vida real e nas relações com os outros. O segundo passo é buscar ajuda profissional, grupos de apoio, informações a respeito, mudanças de hábitos e muito esforço.

Porém, nem sempre é fácil fazer com que o dependente aceite seu problema. “Geralmente, a pessoa que está viciada ou dependente da Internet, rejeita a idéia e só quando vê sua vida sendo subtraída em detrimento do vício é que procura alguma ajuda. Por serem questões ligadas à formação e desenvolvimento da personalidade, precisam ser tratadas como tal, por profissionais competentes na área. No caso de crianças e adolescentes, toda a família deverá procurar ajuda, pois a ação terapêutica dos pais é que poderá garantir o sucesso do tratamento.”, diz a psicóloga.

O Hospital das Clínicas em São Paulo possui um tratamento para Dependência de Internet. Trata-se de um programa de atendimento ambulatorial com abordagem multidisciplinar. Inicia-se com uma pré-triagem para averiguar o quadro de sintomas, o psiquiatra realiza uma consulta para avaliação e então é oferecido ao paciente um plano terapêutico em grupo e/ou individual que constitui de acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Segundo o site do Hospital, são estas as características de usuários graves de internet, que passam muito tempo e que podem ter dependência de internet:
- Pessoas inteligentes e mentalmente muito ágeis
- Preferem passar o “dia todo” conectados
- Pertencentes a todas as faixas etárias
- Apresentam depressão e/ou ansiedade
- Preferem as interações virtuais às reais
- Utilizam a internet como uma forma de expressão daquilo que realmente são e pensam (refúgio)
- Ciclo de amizades e de relacionamentos muito empobrecido
- Desenvolvem idiossincrasias na rede

O site ainda oferece um questionário para testar a sua dependência:

1- Você fica mais tempo na Internet do que com pessoas “reais”?
Se você costuma gastar suas horas com atividades online mais do que com pessoas da sua família, amigos ou de outro tipo de relacionamento, realmente você precisa ficar atento, pois este é um dos primeiros sintomas do problema.

2- Você não consegue manter seu próprio controle na net?
Caso você se conecte na Internet apenas para “dar uma olhada” e acaba ficando bem mais do que o planejado, cuidado! Este pode ser um claro sinal de dependência de Internet.

3- Você acha que “sem a Internet não dá para ficar”?
Se por qualquer razão você não pode estar online durante algumas horas/períodos e percebe-se ansioso ou com tédio ou irritado e, quando volta a conectar-se fica bem de novo. Este é um péssimo sinal!

4- Você se percebe incapaz de diminuir o tempo online, mas, pelo ao contrário, ele só aumenta?
Caso você já tenha feito tentativas frustradas para diminuir o tempo de uso e vem notando que a cada dia que passa, você permanece mais tempo conectado na net para ter a mesma satisfação. Muito cuidado, este é um forte sinal de dependência!

5- Você tem mentido ou disfarçado para os outros sobre o tempo que você fica conectado?
Desde que começou a ficar mais tempo online, se você tem tentado enganar ou mentir para seus familiares ou pessoas mais próximas a respeito da relação que você estabelece com o tempo na Internet. Isto é um gritante aviso!

6- Você sente que sem a Internet a vida não teria graça?
Se não consegue mais sentir o mesmo prazer que antes nas atividades offline ou sente-se melhor na vida virtual do que em qualquer outra situação real. Ou ainda, tem notado que de um tempo para cá, desde que começou a usar com maior freqüência a Internet, vem sentindo-se irritado ou deprimido. Cuidado!

7- Mesmo sem estar na frente do computador, preocupa-se com o que está acontecendo no mundo virtual?
Quando você está envolvido em outras tarefas cotidianas e não pode estar online (nossa, que ansiedade!), chega em casa e corre para ligar seu computador (ou dá um jeito mesmo fora de casa) para ficar “inteirado” dos acontecimentos virtuais. Estas atitudes podem indicar dependência de Internet.

Maiores informações:
Contato com Joana Paro: http://elogioavida.blogspot.com/

Jornalistas Blogueiros - A Nova Era do Jornalismo


Atualmente mais de 70 mil blogs são criados por dia ao redor do planeta. Acredita-se que um em cada quatro internautas brasileiros leia blogs todos os dias buscando informações ou entretenimento.

O Blog, criado inicialmente como um diário virtual, passa a ser um importante veículo de comunicação, utilizado cada vez mais por jornalistas. Porém, o fato de um blog ser mantido por um jornalista, não o caracteriza como um blog jornalístico. O blog jornalístico tem que estar atrelado ao princípio básico do jornalismo: a informação comprometida com a verdade e com o interesse público.


O jornalista Leonardo Concon (www.leonardoconcon.com.br), encara o blog como portal de notícias, informações e opiniões. “Sempre torcia o nariz para blogs. Mas, descobri, antes tarde do que nunca, que um blog não é apenas um diário, um espaço para desabafar sentimentos, deixar arquivos para os outros pegarem, ou mesmo bibliotecas de links e coisas interessantes que se copiam e colam: um Blog é, essencialmente, comunicação pura, no mais literal sentido da palavra. 'Blogar' é, antes de tudo, também, se dispor, seja qual for a hora, em favor do próximo estar bem informado.”, relata Concon.

Ricardo Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/) , jornalista que mantêm um blog desde 2005, relata no Observatório de Imprensa que as notícias cavadas no início da semana acabavam envelhecendo antes que a semana terminasse, deixando sua coluna dominical no Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, obsoleta. “Um amigo sugeriu que eu criasse um blog para ter onde despejá-las a tempo e a hora”, disse ele.

Concon comunga da mesma opinião: “a motivação maior é a informação em tempo quase que real, com foto, áudio, vídeo, comunicação por email quando o blog é atualizado. Esperar por um jornal de papel que vai levar a semana toda para circular? Ou mesmo, no dia seguinte? É muito tempo, não acham? Essa é a motivação: evolução dos sistemas. A integração. O upgrade. O jornalismo mais vivo do que nunca.”


Lucas Casella (www.lucascasella.blogspot.com), que além de jornalista é compositor e cineasta, se diz fascinado pela rapidez com que o blog transmite a informação, ao mesmo tempo em que possibilita a imediata interação com o leitor. Casella usa o blog para guardar suas ideias e publicá-las com mais liberdade. “É uma forma descontraída para falar de algo sério. O blog é capaz de instigar opiniões, gerar discussões, provocar atitudes, e sem a obrigatoriedade da linguagem séria de um jornal.”, explica.

Blog: o fim do monólogo no jornalismo

Para grande parte dos jornalistas, o comprometimento com a “imparcialidade na divulgação da notícia”, o impede de mostrar a sua satisfação ou indignação frente a um acontecimento. Sempre foi aconselhável ao responsável por divulgar uma informação que se mantivesse neutro. O blog veio por fim neste monólogo.

Juca kfouri em entrevista concedida no I Salão do Jornalista Escritor, ao se referir aos blogs, disse que é o começo de uma nova forma de se encarar o jornalismo. “O jornalista tem opinião sim, tem que ter. O leitor quer saber o que o jornalista pensa. A falta de espaço para o jornalismo opinativo na mídia convencional leva o jornalista a procurar por novas maneiras de se expressar. O blog está aí para isto”, alega Kfouri.

Outra característica do blog que tanto atrai os jornalistas é o retorno do leitor, a possibilidade imediata de conhecer a reação que determinada informação causa no internauta.

Para Leonardo Concon o leitor é a peça fundamental, o que dá sentido e o que justifica a sua dedicação ao blog. “Sem o retorno do internauta, qual o sentido de ‘blogar’?”, questiona.

O blog hoje é considerado uma mídia. Muitos recebem milhões de acessos diários, atraindo empresas interessadas em divulgar seus produtos. O lucro obtido com publicidades passa a caracterizar o blog não mais como uma espécie de “pasquim”, onde os jornalistas escreviam apenas para divulgar suas ideias. É um trabalho. Um trabalho que vem mudando a forma de se fazer jornalismo.

A experiência de blogar alterou a forma como jornalistas pensam e trabalham suas pautas, afetando diretamente a maneira como o profissional atua em outras mídias.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nem confessionário, nem tribunal



Blog, ferramenta idealizada inicialmente como um diário virtual, passou a ser a mídia mais democrática existente. Sim, o blog hoje é mídia. E como tal,  vem sendo alvo de polêmicas e questionamentos sobre os limites da tão valorizada liberdade de expressão.

Um problema recente entre um blogueiro e um dono de bar, fomentou ainda mais esta discussão. Tudo começou quando Raphael Quatrocci, postou em seu blog Resenha em 6 uma severa crítica ao Boteco São Bento, localizado na Vila Madalena, em São Paulo. Dias após a publicação da postagem, Quadrocci recebeu um comentário  de Jonas Steinmayer, um dos donos do estabelecimento: “Estamos tomando as devidas providências em relação a esse blog”, ameaçou Steinmayer.

Como se não bastasse, os advogados do bar enviaram uma notificação extrajudicial, solicitando a remoção da postagem. Os mantenedores do blog, tentando evitar maiores aborrecimentos, acharam por bem apagar a crítica, agitando ainda mais a indignação dos blogueiros que, por pura cumplicidade, sentiram sua liberdade restringida. E a história desta discórdia se esplalhou na internet feito vírus.

Apesar de divertida e criativa, uma crítica grosseira como a que foi lançada ao boteco, merece também uma crítica ao autor. Ele ‘pegou pesado’ e generalizou o atendimento recebido. Será mesmo que todos os garçons "são ultra-power-mega chatos"? Bem sabemos que mau humor é contagiante... Quem será que começou?

Qualquer um pode perceber o conteúdo inadequado da postagem. Tudo bem que o cara achou  que o bar é o “pior do sistema solar”, talvez seja mesmo, mas a maneira como justificou a “simpatia” do atendimento(outra vez generalizando) foi totalmente ofensiva. É sempre bom reavaliar o que escrevemos.

A internet não é um ouvido de um amigo, por mais fofoqueiro que ele seja. Toda postagem é uma publicação. É bom apoiar nossos desabafos mais calorosos em critérios coerentes. Apagar a postagem ajuda, mas não desfaz os estragos.

Defendo com unhas e dentes o direito de expressão. É evidente que podemos e devemos dar nossas opiniões, mostrar nossas indignações e fazer criticas. E o blog é uma excelente ferramenta para isto. Mas um bocado de bom senso não faz mal a ninguém. Somos responsáveis pelas informações que divulgamos e também pela maneira como as divulgamos.

Uma atitude educada e um pouco mais humilde das duas partes evitaria este tipo de constrangimento. O blogueiro foi impiedoso, rude, utilizando, inclusive, palavras de baixo calão, despertando a ira do proprietário do bar.

Por outro lado, se o dono do estabelecimento deixasse um comentário explicando o ocorrido,  prometendo melhoras, desculpando-se  ou ao menos se usasse um tom menos arrogante e ameaçador, certamente ele ganharia mais. E  perderia menos clientes. No erro, quanto mais discrição, melhor.

O dono do bar não deixou dúvidas quando ao modo como são tratados os clientes que não ficam satisfeitos com seus serviços. E o feitiço virou contra o feiticeiro. O blog foi amplamente divulgado e o bar, apesar de finalmente famoso, deve estar às moscas.



O texto abaixo é a postagem na íntegra antes de ser retirada do site Resenha em 6. Tire suas próprias conclusões.

"Depois da Faixa de Gaza e do Acre, este é o pior lugar do mundo para você ir com os amigos. Caro, petiscos sem graça e, principalmente, garçons ultra-power-mega chatos: você toma dois dedos do seu chopp, quente e azedo que nem xoxota nos tempos dos vikings, eles já colocam outro na mesa. E se você recusa, eles ainda ficam putos. Só tulipadas diárias no rabo para justificar tamanha simpatia no atendimento."


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Entre pérolas e pedras

(Por que não pensei nisto antes?)

Foi uma surpresa chegar hoje na sala de aula e encontrar Igor Pucci, um rapaz tímido de 25 anos, contando um pouco da sua experiência como programador web.

Igor criou o site http://www.perolasdoorkut.com.br/, conseguindo transformar em lucro o que era apenas diversão.

O site reúne “pérolas” garimpadas em fotos e recados no Orkut. Lá poderemos encontrar pessoas que amam o canal "Discorvery Chenn", que sentem “enveja”, que são "egléticas", “entelequituais”, “enteligentes e capáses de resouver os póprios poblemas". Tem até milionário exibindo seu "Ross Rossy" sob os olhos da torre "Enfo", em Paris. E outros que colocam “pirsi na samprasellha”. Uma beleza!

Além de expor a pobreza intelectual do brasileiro na categoria “erros gramaticais”, o site tem fotos para não deixar dúvidas sobre a nossa mediocridade. Triste? Que nada! Eu adorei. É de chorar de rir!

Contudo, o que mais me impressionou não foi o fato do jovem conseguir viver com o lucro obtido com publicidade em seu blog, mas a reação que ele causou ao contar o montante de dinheiro que recebia mensalmente.

Óóóóóóóóh!!! Logo após, cochichos por todos os lados. Mas a confusão maior foi quando ele disse que trabalhava apenas 1 ou 2 horas por dia. Salvo raras exceções, o sentimento de inveja passou a ser de indignação. Só se acalmaram quando ele confessou que, com a crise, seu rendimento caiu quase pela metade. Foi um alívio para boa parte dos ouvintes.

“No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, disse Tom Jobim. Nada mais verdadeiro! Basta ver o alto número de leitores de revistas especializadas em fofocas de artista. Pior ainda é quando conhecemos o protagonista... Reparem, se o sujeito aparece com um carro novo, sempre tem um pra insinuar que ele anda metido em algo ilícito.

“Sortudo”, dizem eles. Mas a sorte nada mais é do que a sabedoria interna agindo em causa própria.

Igor foi pioneiro, criativo e teve visão. E o melhor é que ele deve rir muito enquanto trabalha, coisa proibida em qualquer ambiente em que se ganha o pão. Brincando de trabalhar, conseguiu o que tantos não conseguem se matando de trabalhar.

Provou, com humildade, que o mundo é dos criativos e não dos invejosos.

(Des)Controle Absoluto

Qual o limite da interferência que a tecnologia é capaz de exercer em nossas vidas? Ainda estamos em teste...

Primeiro aprendemos a dominar uma infinidade de aparelhos que nos facilitam a vida, depois corremos o risco de virarmos reféns destes mesmos ‘facilitadores’.

Assistimos em sala de aula, o filme "Controle Absoluto". Desconsiderando as previsíveis cenas de perseguição e os diversos carros destruídos, sempre presentes no cinema americano, o filme é interessante. Após um telefonema ameaçador, vindo de uma voz anônima, a vida dos protagonistas passa a ser controlada, seus movimentos rastreados, seus passos seguidos, levando o espectador a refletir sobre esta tênue linha entre controlar e perder o controle da nossa liberdade por meio das novas tecnologias.

Hollywood à parte, chegou o tempo, anteriormente anunciado, em que todo ser humano terá seus cinco minutos de fama.

Somos monitorados por câmeras instaladas em elevadores, prédios, lojas, ruas e estradas e nem sempre estamos cientes destes observadores constantes.

Através da internet, mantemos contato com centenas, e até milhares de pessoas. São amigos, conhecidos, desconhecidos e anônimos que passeiam em nossos blogs, twitter, Orkut, MSN e outros meios de comunicação virtual

Digito meu nome no Google e perplexa concluo que ele sabe mais de mim do que eu mesma, além de ter uma memória bem mais precisa do que a minha... Perdi. Um a zero pro Google. E meu nome lá, vagando a esmo em computadores distantes e incógnitos.

O utópico conceito de liberdade tornou-se ainda mais irreal quando temos nossa vida expostas nestes sites de relacionamento.

Através da internet, é possível descobrir tudo a respeito de um estranho. Sabemos em que cidade mora, em que trabalha, o que gosta de fazer, se é um intelectual ou mais um semi-analfabeto, se é feio, bonito, gordo ou magro. Pelas comunidades virtuais que o indivíduo participa, podemos traçar um perfil psicológico perfeito. Nem Freud faria melhor.

Contudo, torna-se necessário nos colocarmos de algum lado das ‘telas’ mentais e virtuais que nos apresentam. Somos espectadores ou protagonistas?

Somos nós que controlamos as tecnologias ou são elas que nos controlam?

Não arrisco um palpite. Sei que me observam...

sábado, 5 de setembro de 2009

A revolução das artes

A Semana de Arte Moderna, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, foi um marco para as diversas expressões artísticas do país. O movimento reuniu escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos, com o intuito de revelar a nossa atual e verdadeira identidade no mundo das artes.

Mesmo seguindo tendências vanguardistas da Europa e alguns estrangeirismos contrários ao ideal da amostra, os artistas pretendiam com o movimento, a libertação dos enraizados padrões estrangeiros. Negavam o academicismo nas artes e procuravam realizar e firmar uma arte tipicamente brasileira.

Sob vaias e aplausos, Graça Aranha abriu o evento que reuniu os mais importantes nomes da cultura brasileira. Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Villa Lobos marcaram presença, provocando reações de amor e ódio.

Apesar da imprensa, na época, praticamente ignorar o evento, nenhum outro movimento no Brasil reuniu tantos artistas e intelectuais e nem causou tanta polêmica quanto a Semana de Arte Moderna.

A tentativa de estabelecer uma arte puramente brasileira, liberta das fórmulas padronizadas estrangeiras, foi de extrema importância para a cultura nacional. Sim, a arte não deve ter fronteiras. Mas deve ter e respeitar sua identidade.

Os modernistas contribuíram para firmar uma nacionalidade cultural e diminuir este complexo de inferioridade que acompanha muitos brasileiros.

Sem a Semana de Arte Moderna, talvez o brasileiro ainda sentisse certa estranheza ao se ver nas mulatas de Di Cavalcanti, nos operários de Tarsila do Amaral e de viajar no “Trenzinho Caipira” de Villa Lobos.

O conservadorismo engoliu “Os Sapos” de Manuel Bandeira e a arte brasileira, satisfeita, sorriu aliviada.

domingo, 30 de agosto de 2009

Internet, um distúrbio compulsivo crônico

É curioso... O ser humano inventa coisas que nunca lhe fizeram falta e depois não conseguem viver sem elas. A internet, absolutamente surreal e impensável há tão pouco tempo, tornou-se necessária. Mais do que isto. Imprescindível. Não há mais como vislumbrar um mundo sem ela.

É realmente impressionante. Os filmes de ficção científica da década de 60 criaram um ano 2000 onde as pessoas vestem prateado e os carros voam. Porém, os computadores eram gigantescos, provando a total inépcia do ser humano em prever o futuro.

Muitos dizem que a internet diminui distâncias. Sim, o que acontece do outro lado do mundo está acessível ao conhecimento de qualquer um. Mas há um outro lado. O lado humano. Muitas vezes a internet aproxima quem está longe, mas afasta quem está perto.

A quantidade de atrativos é tão imensa que é comum encontrar pessoas viciadas em internet. Tem quem que gosta de música, de jogos, de política, de astronomia, de fofoca de artista, de física quântica ou qualquer coisa que se possa imaginar, por mais absurdo que possa ser. Quase ninguém escapa. Até os poetas deixam de observar a lua para navegar pelos mares da net.

Há de se ter cuidado para que a internet não atrapalhe a sociabilidade, para que não aconteça um isolamento ou mesmo que se viva de relações virtuais e não reais.

A internet é a invenção mais incrível dos últimos tempos. Mas o Ministério da Saúde deveria nos advertir. Ela vicia até os mais atentos. Uma vez que a utilizamos, não mais ficamos sem ela. Não há como nos tornarmos abstêmios de internet. Não há ex-usuário.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Censuras na Ditadura Vargas e Militar

“A minha gente hoje anda/falando de lado/olhando pro chão”
(Chico Buarque de Holanda, “Apesar de você”, 1970)

A Censura no Brasil, seja ela cultural ou política, é uma velha conhecida! Começa sua existência quase que juntamente à colonização do país.

A própria imprensa brasileira já nasce sob os efeitos da censura, mas é na Era Vargas e no Regime Militar que a censura toma forma e se agiganta.

Getúlio Vargas, em 1937, alegando uma suposta conspiração comunista, conhecida como Plano Plano Cohen, outorga uma nova Constituição aumentando seus poderes e evitando eleições diretas, instaurou a censura e o Estado Novo, que durou até 1945. Esse período ditatorial, conhecido como Estado Novo, é um regime autoritário com características do fascismo europeu.
Getúlio fecha o Congresso Nacional, as Assembléias Estaduais e suspende as liberdades políticas.
E em 1939, cria o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. O DIP fica responsável pela censura aos meios de comunicação e divulgação do Estado Novo.

Além de promover o Estado e exaltar os atos do poder público, o DIP se fazia presente em todas as áreas de comunicação e nas manifestações artísticas. Censurava tudo que fosse contra o regime, nenhuma crítica ao presidente poderia ser publicada por mais sutil que fosse. A censura também existia com o pretexto de defender os “valores morais” da sociedade, uma música que continha uma palavra considerada de “mau gosto” ou “imprópria” era imediatamente censurada.
A imprensa, a literatura e a música passaram a ser fiscalizadas rigorosamente.
Graciliano Ramos é preso, acusado de incitação ao comunismo e passa onze meses numa prisão. A escritora Pagu, passa 5 anos na cadeia, onde é cruelmente torturada.

Na década de 1940, o rádio firmou-se como o principal meio de comunicação de massa e conseqüentemente, além de servir como um veículo de exaltação dos atos do governo era rigorosamente fiscalizado, além da censura prévia da programação, o DIP tinha funcionários encarregados de acompanhar as transmissões de cada estação.

No término da Segunda Guerra Mundial, o gover¬no getulista chega ao fim no Brasil. A tradição autoritarista trazida por Vargas dá espaço a um período curto de liberalismo, que permanece até o Golpe Militar de 64.

Na ditadura militar que se seguiu ao golpe e durou vinte e um anos (1964 - 1985) houve repressão policial, exílios políticos, estabelecimento de legislação autoritária, supressão dos direitos civis, censura, torturas, “desaparecimento” de pessoas e morte.

Após a promulgação do AI-5, todo e qualquer veículo de comunicação deveria ter a sua pauta previamente aprovada e sujeita a inspeção local por agentes autorizados.

É interessante notar que mesmo com a presença ostensiva da censura, movimentos estudantis e manifestações artísticas eram constantes. Constantes também eram as prisões e torturas de artistas e líderes de movimentos. Qualquer um que se manifestação contra o regime militar era duramente punido.

Alguns jornais, como o "Movimento", "Pasquim", "Em Tempo", "De Fato" eram rigorosamente censurados. Nossos melhores compositores foram “expulsos” do país.

Liberdade de imprensa, de expressão, artísticas, liberdade...Até mesmo a palavra “liberdade” era proibida de se dizer. Foi uma época de silêncio. Silêncio sobre o bem. Silêncio sobre o mal. Quem mais sabia, mais sofria e bebia o fel no “Cálice” da ditadura.

A Modernização da Imprensa

“Nada será como antes”


As três últimas décadas do século XX foram marcadas por grandes transformações na imprensa brasileira. Muita coisa mudou durante o processo de transição da ditadura à democracia. As modificações ocorreram em vários setores: houve um aumento nas publicidades, investimentos em equipamentos e tecnologias, diversificação do público consumidor e conseqüentemente, uma mudança notável no perfil do profissional da imprensa.

Durante muito tempo o jornalismo e a literatura se confundiam. O jornalista era um porta-voz da opinião pública. Até os anos 50 a imprensa era dependente do Estado e de anúncios populares. Nesta mesma década surgiram as agências de publicidade, proporcionando ao jornalismo uma independência do poder público. Com o aumento de campanhas publicitárias, veio a reforma e modernização dos principais jornais. A “paixão política” e pouco objetiva dos anos 50 foi substituída por um jornalismo menos opinativo, que privilegiava a informação.

A partir de 1964, com o regime militar instaurado no Brasil, a imprensa passa a ser fiscalizada pelo governo. Nenhuma crítica ou opinião contrária ao regime podia ser publicada. A liberdade de expressão é restrita, ou nula. Censura, perseguições à intelectuais, jornalistas e políticos são constantes.

Por outro lado, os governos militares financiaram toda modernização da imprensa. Criaram a Embratel, o Ministério das Comunicações e mais tarde, a Telebrás. Este subsídio era uma estratégia para melhor controlar o que viria a ser publicado.

A imprensa alternativa, como o próprio nome sugere, cresce como uma alternativa ao jornalismo impregnado da supervisão militar e mesmo sob forte represália, faz crítica ao governo através de suas publicações. O Pasquim, um dos maiores jornais alternativos do país chegou a uma tiragem de mais de 100 mil exemplares.

Em 1972, quando a televisão se firma como um veículo de massa, acarreta uma grande concentração dos meios de comunicação e alguns jornais entraram em decadência.
Com a liberação da imprensa no governo de Ernesto Geisel, permitindo a livre manifestação, o jornalismo brasileiro fica acuado entre a suposta liberdade e a pressão exercida pelos militares “linha dura”.

Além de estar diretamente ligada a processos políticos, como liberdade de expressão e censura, informar e formar opinião, a modernização da imprensa está ligada à evoluções tecnológicas, como a internet, que trás a notícia em tempo real ao leitor. Outro ponto a ser considerado é a formação dos jornalistas. Com o advento das faculdades, a função do jornalista passou a ser discutida de forma mais concreta, colocando em pauta a ética e a própria modernização dos conceitos ligados ao jornalismo.

Resta saber se nos próximos 30 anos ainda passaremos por tantas transformações quanto os últimos. Que venham as mudanças! Mas desta vez, sem os militares, por favor.

Jornalista Escritor

Com uma certa inquietação, acabo de chegar do Memorial da América Latina, onde aconteceu o I Salão Nacional do Jornalista Escritor. Participar de um encontro como este, para alguém como eu, que escreve poesias desde os 9 anos de idade e 30 anos depois se mete em um curso de jornalismo, foi, no mínimo, reconfortante. Apesar de toda agitação gerada por ele.

Logo no primeiro mês de faculdade, recebo o seguinte comentário em uma avaliação: cadê a objetividade? Percebi, de cara, que o jornalismo é a negação da literatura. Tenho que reaprender a escrever, se eu quiser ser jornalista, ou ao menos, pra passar de ano. Mas como me livrar das metáforas que há anos me acompanham?

Ouvi opiniões diversas sobre o tema. Foi citado que o jornalismo nada tem em comum com a literatura, que são dois ofícios diferentes e que se opõem. Mas alguns acreditam que este é o futuro do jornal impresso, e que a forma como o jornalismo é feito atualmente está ultrapassada.
Segundo Coni, as redações dos jornais se igualam ao fórum romano: só restaram ruínas e colunas.

Luiz Fernando Veríssimo abriu as atividades. Com seu jeito recatado, quase tímido, contou um pouco da sua infância, e me fez lembrar da minha, quando o lia na minha coleção “Para gostar de ler”. Citou a importância que seu pai, o escritor Érico Veríssimo, teve no seu gosto pela leitura e do seu trajeto como jornalista e escritor. Revelou que “cometeu” cinco romances, além de inúmeras crônicas, mas que mesmo assim se intitula jornalista e não escritor. Ele trabalhou em todos os setores do jornal. Até horóscopo ele fazia. Escrevia as suas “previsões” num dia, no outro ia ler o que o destino lhe reservava... Depois mudava as previsões de um signo para outro e ninguém percebia. Para Veríssimo, os jornais tendem a ser mais opinativos, com mais colunas e matérias assinadas. O leitor gosta de saber o que o jornalista pensa, disse ele.

Ruy Castro, com um imenso senso de humor, arrancou gargalhadas da platéia. Nos contou, principalmente, de seu trabalho como biógrafo. Defendeu o rigor na apuração dos fatos relacionados à vida do biografado. Afirmou fazer cerca de mil entrevistas para cada livro produzido. E deixa para entrevistar por último as pessoas mais próximas, para não se influenciar, não deixar a emoção acima dos fatos. Na biografia do Garrincha, por exemplo, a Elza Soares só foi entrevistada um ano após o início de suas pesquisas. Para ele, as autobiografias não existem. São apenas diários, cheios de mentiras e adulações. Quando perguntaram se autorizaria uma biografia sua, ele disse: “Só depois de morto. Nem isso. Darei um jeito de atrapalhar.” Também criticou o gênero livro-reportagem, que para ele, é oportunismo de jornalista. “Para se fazer uma coisa bem feita é necessário muito tempo de apuração. O livro dura cem anos e uma reportagem não sobrevive tanto tempo”, disse.

Já Ricardo Kotscho afirmou não gostar de rótulos, que existem estórias bem contadas e mal contadas e o nome (livro-reportagem, jornalismo literário, jornalismo investigativo) não faz diferença. E argumentou: “o jeito de escrever é o mesmo, seja pra jornal, revista ou livro. A gente tem que conversar com o leitor como se fosse com um velho amigo”.

Ziraldo, um menino maluquinho de 75 anos, leve e cheio de vida, disse que, apesar de não ser o caso dele, o bom escritor, tem que ter uma infância sofrida. Criticou severamente o ensino fundamental, alegando que fundamental quer dizer base e uma boa base se faz com livros. “A criança deve, no ensino fundamental, apenas aprender a ler, escrever e fazer contas.” Citou uma passagem com seu neto de 9 anos, que lhe perguntara o que é cloaca. Ele pensou: pra que uma criança precisa saber o nome científico desta parte da anatomia do passarinho? Pura perda de tempo! Criança tem que ler, ler é mais importante que estudar, disse.

Ziraldo também citou a importância da imprensa na história da humanidade. Comentando que do ano zero até 1500 o homem nada criou, andava de charrete. Após a invenção da imprensa, o homem pode trocar informações e conhecimentos, e foi à lua. Apesar de sua defesa à tecnologia, disse não se adaptar ao uso de computadores e que para tanto foi necessário contratar um “Mouse-man”, a fim de digitar seus escritos.

Mauro Santayana falou de seu tempo de cobertura da guerra da independência do Marrocos, do seu sofrimento na época da ditadura. E também disse uma frase interessante: “você tem que fazer o leitor ter prazer em ler aquilo que escreve, tem que dar um ligeiro barato”.

Carlos Heitor Coni nos revelou que para escrever suas crônicas ou romances, busca inspiração em pessoas desconhecidas, que ninguém se ocupa delas e nas situações vividas num determinado momento. “É preciso falar com as pessoas, ouvi-las e depois transmitir o que você viu, o que sentiu. Inspiração é olho aberto.” Disse, modesto.

Houve o também o Alberto Dines, excelente. Um debate interessante foi o de José Hamilton Ribeiro, ganhador de 7 merecidos prêmios Esso, Ignácio de Loyola Brandão e Mylton Severiano sobre a revista Realidade. Mylton foi o redator e contou um pouco da história da revista. Disse que a revista foi um marco no jornalismo e continha os melhores repórteres e os melhores textos. Loyola citou os problemas com a ditadura e disse: “não sou da luta armada, mas da palavra”. É, acredito que a palavra é a arma de todo jornalista.

Para Moacyr Scliar, autor de 80 livros, que além de nos dar uma história do Brasil nos tempos da ditadura, disse que “sem fantasia e imaginação, não há literatura.” e o escritor em uma redação de jornal, passa a ser um “estranho no ninho”. E acrescentou: “O escritor tem que pensar em um só leitor, o jornalista pensa no público. Jornalismo não é profissão, é maneira de ser.”

Juca Kfouri se emocionou ao falar de Audálio Dantas, a quem prestou uma homenagem. Também falou sobre a imparcialidade do jornalista. Disse que jornalista tem lado sim, tem que ter e não se pode mentir para o leitor. “Não sejamos hipócritas”, disse. Outra dele: “A profissão de jornalista te dá uma certa proximidade com o poder, mas não te dá o poder. Você é apenas um observador. Não confunda. Mas um jornalista que não tiver a pretensão de mudar o mundo, está na profissão errada.”

Entre tantos nomes de sucesso e talento, pude observar alguns pontos em comum entre eles: todos foram crianças que gostaram de ler e todos tem um propósito maior, além da informação.
Este encontro foi, não só a melhor aula de história da minha vida, mas um verdadeiro banquete cultural e literário, com direito a doses de esperanças.

Dificuldades no mercado editorial

O escritor Mário Prata e Cecília egreja


Por Jean Fronho e Cecília Egreja


Escrever um livro pode ser uma longa história. Nos dias de hoje, publicar um não é uma tarefa fácil de realizar. Muitos escrevem, mas poucos têm a oportunidade de ver sua obra impressa em um livro.

Com um mercado cada vez mais sufocado pela exigência de vendas, a publicação fica difícil para o escritor iniciante. Os nomes mais conhecidos são disputados pelas grandes editoras, enquanto que para o autor desconhecido não há espaço no mercado editorial.

Elaine Cristina Brito, dona de casa e poetisa, escreve desde os 10 anos. Nunca publicou um livro, apesar de ter material para alguns. Ela nos conta as dificuldades encontradas: ”Os editores não se interessam por novos autores. Com a poesia é ainda pior”.

Parece ser o mesmo caso de Marcelo Fernandez, um administrador de empresas que sonha com a carreira literária. Escritor de contos e romances, publicou um livro em 2002. Devido à falta de auxílio da editora, teve que arcar com os custos, além da comercialização e divulgação da obra. Porém não teve o retorno esperado. “É muito difícil alguém comprar um livro de um escritor desconhecido” diz ele. “A gente acaba vendendo para os amigos por um preço baixo e por isso o lucro é menor que o esperado”.

Paralelo aos que tentam um espaço no mercado, existem aqueles que já têm o reconhecimento do público. Mario Prata é um deles. Escritor de renome, já recebeu dezoito prêmios nacionais e estrangeiros, entre literatura, teatro e cinema. Mario esteve em Penápolis no último dia 22 de outubro, onde respondeu a questões em um bate-papo na Biblioteca Municipal.

Mario disse que seu gosto pela escrita se deu por influência do primo, também escritor, Campos de Carvalho. Além disso, quando criança morava em frente ao jornal da cidade de Lins. Disse, sorrindo, que se morasse em frente a um açougue, seria açougueiro. E aos 14 anos começou a colaborar para o jornal de sua cidade.

Mario Prata reconhece as dificuldades de quem está iniciando na carreira literária. “O escritor precisa de sorte e de talento. E mesmo assim nem sempre dá certo”.

Muitos escritores começaram escrevendo para jornais. Alguns, mesmo depois do reconhecimento, continuaram colaborando com crônicas e pequenos contos. É o caso de Carlos Drummond de Andrade, que freqüentou as redações por 64 anos, de Machado de Assis, Guimarães Rosa, e tantos outros.

Atualmente, com a maior facilidade de acesso à internet, os blogs se tornaram um meio propagação de idéias. Neles, os textos estão acessíveis para os leitores, sem custo nenhum para quem publica ou para quem lê.

Viviane Martins, estudante de pedagogia, escreve textos para publicar na internet. Ela pensa em um dia publicar um livro, mas por enquanto está satisfeita com as postagens em seu blog.“Tenho muitas idéias, o blog foi um meio que encontrei de compartilhar com a galera.”

Perguntando a ela sobre a intenção de publicar um livro, ela rebate: “Teve um colega meu que já tentou publicar e eu vi as dificuldades que ele enfrentou e isso me desestimulou a tentar”.

Apesar dos problemas, os jovens escritores não desistem dos seus sonhos e ainda esperam ver suas obras em grandes livrarias. Elaine Cristina é poética até quando fala de seus planos: “Sinto-me como alguém que tenta alcançar o horizonte com passos de criança.”

Marcelo é mais prático e realista, mas mesmo assim não perdeu a esperança de publicar outro livro: “A situação é difícil, mas um dia, quem sabe?”.

E para aqueles que pensam que mesmo depois de famosos, a vida de um escritor é fácil, Mario Prata contradiz a idéia: “Há 50 anos que não tiro férias. Minhas idéias, que são o meu instrumento de trabalho, surgem nas horas mais desconcertantes.”

Para os novos escritores ele aconselha que leiam muito, sejam persistentes, e não desanimem com as primeiras críticas. E terminou a entrevista aconselhando: “ não leiam a Veja”.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Jornalistas Blogueiros

Atualmente, muitos jornalistas têm se aventurado no mundo da blogosfera. Alguns questionam o objetivo de um profissional dedicar seu tempo e energia a uma atividade não remunerada. Porém, o crescente interesse do jornalista em utilizar um blog para divulgar suas ideias é compreensível.

Até mesmo para um jornalista de sucesso, o espaço disponível para publicação de seu texto é limitado, obrigando-o a se adaptar ao controle de caracteres e restringindo sua liberdade de expressão. No blog, não há limites. O jornalista põe o ponto final no momento que bem entender.

Os blogueiros dispõem de recursos para enriquecer o blog, como vídeos e áudios, por exemplo. Tornando o blog mais atraente para o eleitor e para o próprio jornalista que vê suas palavras complementadas por imagens ou sons.

A rapidez na publicação de um texto é mais um atrativo. O jornalista não precisa esperar um dia, uma semana ou um mês para ter seu texto publicado. A notícia pode ser lida praticamente em tempo real.

Outro motivo evidente é o fato de que a maioria dos comunicadores não tem um veículo em que possa expressar sua opinião sobre determinado tema. A chamada imparcialidade do jornalista o impede de manifestar indignação, espanto ou entusiasmo no conteúdo do seu trabalho. A ele é dado o direito e a obrigação de informar. Pensar e se expressar de acordo com a sua percepção não é permitido para grande parte dos jornalistas. Há de se ter cuidado com as palavras, revelando somente o impessoal, objetivo, verdadeiro e não adjetivado. Limitando, assim, a qualidade humana mais marcante: o poder de se comunicar.

Para o jornalista blogueiro a notícia pode ter vida, ser mais humanizada. E ele não mais é visto como um profissional sem ideias ou sem o direito de expressa-las.

Há aqueles que se dedicam em seus blogs a escrever sobre um único tema e se isentam de qualquer opinião. Porém, eles têm total liberdade de escolher o quê e como irão escrever.

Além de todas estas facilidades, o blog propicia ao jornalista uma imediata interação com o leitor. Segundos após publicar seu texto, o blogueiro pode receber um comentário de aprovação ou discordância, permitindo assim, que o leitor participe ativamente do que ele escreve e mostre com clareza o efeito que suas palavras provocam.