terça-feira, 29 de setembro de 2009

Entre pérolas e pedras

(Por que não pensei nisto antes?)

Foi uma surpresa chegar hoje na sala de aula e encontrar Igor Pucci, um rapaz tímido de 25 anos, contando um pouco da sua experiência como programador web.

Igor criou o site http://www.perolasdoorkut.com.br/, conseguindo transformar em lucro o que era apenas diversão.

O site reúne “pérolas” garimpadas em fotos e recados no Orkut. Lá poderemos encontrar pessoas que amam o canal "Discorvery Chenn", que sentem “enveja”, que são "egléticas", “entelequituais”, “enteligentes e capáses de resouver os póprios poblemas". Tem até milionário exibindo seu "Ross Rossy" sob os olhos da torre "Enfo", em Paris. E outros que colocam “pirsi na samprasellha”. Uma beleza!

Além de expor a pobreza intelectual do brasileiro na categoria “erros gramaticais”, o site tem fotos para não deixar dúvidas sobre a nossa mediocridade. Triste? Que nada! Eu adorei. É de chorar de rir!

Contudo, o que mais me impressionou não foi o fato do jovem conseguir viver com o lucro obtido com publicidade em seu blog, mas a reação que ele causou ao contar o montante de dinheiro que recebia mensalmente.

Óóóóóóóóh!!! Logo após, cochichos por todos os lados. Mas a confusão maior foi quando ele disse que trabalhava apenas 1 ou 2 horas por dia. Salvo raras exceções, o sentimento de inveja passou a ser de indignação. Só se acalmaram quando ele confessou que, com a crise, seu rendimento caiu quase pela metade. Foi um alívio para boa parte dos ouvintes.

“No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, disse Tom Jobim. Nada mais verdadeiro! Basta ver o alto número de leitores de revistas especializadas em fofocas de artista. Pior ainda é quando conhecemos o protagonista... Reparem, se o sujeito aparece com um carro novo, sempre tem um pra insinuar que ele anda metido em algo ilícito.

“Sortudo”, dizem eles. Mas a sorte nada mais é do que a sabedoria interna agindo em causa própria.

Igor foi pioneiro, criativo e teve visão. E o melhor é que ele deve rir muito enquanto trabalha, coisa proibida em qualquer ambiente em que se ganha o pão. Brincando de trabalhar, conseguiu o que tantos não conseguem se matando de trabalhar.

Provou, com humildade, que o mundo é dos criativos e não dos invejosos.

(Des)Controle Absoluto

Qual o limite da interferência que a tecnologia é capaz de exercer em nossas vidas? Ainda estamos em teste...

Primeiro aprendemos a dominar uma infinidade de aparelhos que nos facilitam a vida, depois corremos o risco de virarmos reféns destes mesmos ‘facilitadores’.

Assistimos em sala de aula, o filme "Controle Absoluto". Desconsiderando as previsíveis cenas de perseguição e os diversos carros destruídos, sempre presentes no cinema americano, o filme é interessante. Após um telefonema ameaçador, vindo de uma voz anônima, a vida dos protagonistas passa a ser controlada, seus movimentos rastreados, seus passos seguidos, levando o espectador a refletir sobre esta tênue linha entre controlar e perder o controle da nossa liberdade por meio das novas tecnologias.

Hollywood à parte, chegou o tempo, anteriormente anunciado, em que todo ser humano terá seus cinco minutos de fama.

Somos monitorados por câmeras instaladas em elevadores, prédios, lojas, ruas e estradas e nem sempre estamos cientes destes observadores constantes.

Através da internet, mantemos contato com centenas, e até milhares de pessoas. São amigos, conhecidos, desconhecidos e anônimos que passeiam em nossos blogs, twitter, Orkut, MSN e outros meios de comunicação virtual

Digito meu nome no Google e perplexa concluo que ele sabe mais de mim do que eu mesma, além de ter uma memória bem mais precisa do que a minha... Perdi. Um a zero pro Google. E meu nome lá, vagando a esmo em computadores distantes e incógnitos.

O utópico conceito de liberdade tornou-se ainda mais irreal quando temos nossa vida expostas nestes sites de relacionamento.

Através da internet, é possível descobrir tudo a respeito de um estranho. Sabemos em que cidade mora, em que trabalha, o que gosta de fazer, se é um intelectual ou mais um semi-analfabeto, se é feio, bonito, gordo ou magro. Pelas comunidades virtuais que o indivíduo participa, podemos traçar um perfil psicológico perfeito. Nem Freud faria melhor.

Contudo, torna-se necessário nos colocarmos de algum lado das ‘telas’ mentais e virtuais que nos apresentam. Somos espectadores ou protagonistas?

Somos nós que controlamos as tecnologias ou são elas que nos controlam?

Não arrisco um palpite. Sei que me observam...

sábado, 5 de setembro de 2009

A revolução das artes

A Semana de Arte Moderna, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, foi um marco para as diversas expressões artísticas do país. O movimento reuniu escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos, com o intuito de revelar a nossa atual e verdadeira identidade no mundo das artes.

Mesmo seguindo tendências vanguardistas da Europa e alguns estrangeirismos contrários ao ideal da amostra, os artistas pretendiam com o movimento, a libertação dos enraizados padrões estrangeiros. Negavam o academicismo nas artes e procuravam realizar e firmar uma arte tipicamente brasileira.

Sob vaias e aplausos, Graça Aranha abriu o evento que reuniu os mais importantes nomes da cultura brasileira. Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Villa Lobos marcaram presença, provocando reações de amor e ódio.

Apesar da imprensa, na época, praticamente ignorar o evento, nenhum outro movimento no Brasil reuniu tantos artistas e intelectuais e nem causou tanta polêmica quanto a Semana de Arte Moderna.

A tentativa de estabelecer uma arte puramente brasileira, liberta das fórmulas padronizadas estrangeiras, foi de extrema importância para a cultura nacional. Sim, a arte não deve ter fronteiras. Mas deve ter e respeitar sua identidade.

Os modernistas contribuíram para firmar uma nacionalidade cultural e diminuir este complexo de inferioridade que acompanha muitos brasileiros.

Sem a Semana de Arte Moderna, talvez o brasileiro ainda sentisse certa estranheza ao se ver nas mulatas de Di Cavalcanti, nos operários de Tarsila do Amaral e de viajar no “Trenzinho Caipira” de Villa Lobos.

O conservadorismo engoliu “Os Sapos” de Manuel Bandeira e a arte brasileira, satisfeita, sorriu aliviada.