terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nem confessionário, nem tribunal



Blog, ferramenta idealizada inicialmente como um diário virtual, passou a ser a mídia mais democrática existente. Sim, o blog hoje é mídia. E como tal,  vem sendo alvo de polêmicas e questionamentos sobre os limites da tão valorizada liberdade de expressão.

Um problema recente entre um blogueiro e um dono de bar, fomentou ainda mais esta discussão. Tudo começou quando Raphael Quatrocci, postou em seu blog Resenha em 6 uma severa crítica ao Boteco São Bento, localizado na Vila Madalena, em São Paulo. Dias após a publicação da postagem, Quadrocci recebeu um comentário  de Jonas Steinmayer, um dos donos do estabelecimento: “Estamos tomando as devidas providências em relação a esse blog”, ameaçou Steinmayer.

Como se não bastasse, os advogados do bar enviaram uma notificação extrajudicial, solicitando a remoção da postagem. Os mantenedores do blog, tentando evitar maiores aborrecimentos, acharam por bem apagar a crítica, agitando ainda mais a indignação dos blogueiros que, por pura cumplicidade, sentiram sua liberdade restringida. E a história desta discórdia se esplalhou na internet feito vírus.

Apesar de divertida e criativa, uma crítica grosseira como a que foi lançada ao boteco, merece também uma crítica ao autor. Ele ‘pegou pesado’ e generalizou o atendimento recebido. Será mesmo que todos os garçons "são ultra-power-mega chatos"? Bem sabemos que mau humor é contagiante... Quem será que começou?

Qualquer um pode perceber o conteúdo inadequado da postagem. Tudo bem que o cara achou  que o bar é o “pior do sistema solar”, talvez seja mesmo, mas a maneira como justificou a “simpatia” do atendimento(outra vez generalizando) foi totalmente ofensiva. É sempre bom reavaliar o que escrevemos.

A internet não é um ouvido de um amigo, por mais fofoqueiro que ele seja. Toda postagem é uma publicação. É bom apoiar nossos desabafos mais calorosos em critérios coerentes. Apagar a postagem ajuda, mas não desfaz os estragos.

Defendo com unhas e dentes o direito de expressão. É evidente que podemos e devemos dar nossas opiniões, mostrar nossas indignações e fazer criticas. E o blog é uma excelente ferramenta para isto. Mas um bocado de bom senso não faz mal a ninguém. Somos responsáveis pelas informações que divulgamos e também pela maneira como as divulgamos.

Uma atitude educada e um pouco mais humilde das duas partes evitaria este tipo de constrangimento. O blogueiro foi impiedoso, rude, utilizando, inclusive, palavras de baixo calão, despertando a ira do proprietário do bar.

Por outro lado, se o dono do estabelecimento deixasse um comentário explicando o ocorrido,  prometendo melhoras, desculpando-se  ou ao menos se usasse um tom menos arrogante e ameaçador, certamente ele ganharia mais. E  perderia menos clientes. No erro, quanto mais discrição, melhor.

O dono do bar não deixou dúvidas quando ao modo como são tratados os clientes que não ficam satisfeitos com seus serviços. E o feitiço virou contra o feiticeiro. O blog foi amplamente divulgado e o bar, apesar de finalmente famoso, deve estar às moscas.



O texto abaixo é a postagem na íntegra antes de ser retirada do site Resenha em 6. Tire suas próprias conclusões.

"Depois da Faixa de Gaza e do Acre, este é o pior lugar do mundo para você ir com os amigos. Caro, petiscos sem graça e, principalmente, garçons ultra-power-mega chatos: você toma dois dedos do seu chopp, quente e azedo que nem xoxota nos tempos dos vikings, eles já colocam outro na mesa. E se você recusa, eles ainda ficam putos. Só tulipadas diárias no rabo para justificar tamanha simpatia no atendimento."